sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Jovem vê barril caindo do Corcovado

“Barril de madeira se espatifou com sua dureza em implacável e onipresente chão", diz jovem.
   Eram quatro horas da tarde quando Orlando que passava pela trilha do corcovado notou indiferente a queda de um barril. Seus olhos que de relance notaram um pequeno quadro do acontecimento, se tornaram a peça chave do relato do jovem de 26 anos, que descreve de forma surreal e onírica a fusão de cores que sua mente criou com o movimento do barril em meio a mata estacionária.
   Orlando que é engenheiro mecânico, se diz acostumado com o movimento das coisas, e fala que nelas é incapaz de extrair símbolos complexos, enxerga apenas a banalidade e o enfadonho ciclo cotidiano. Contudo, não pôde deixar de relatar com fervor sua sensação diante da passagem do barril que de início notou sem entusiasmo. Em êxtase, conta ao jornal que logo percebeu a gravidade da situação, na qual galhos estalavam pela verdejante e densa mata, abrindo caminho para o rolo que descia impertinente, com a pressa de quem tem compromisso. “Notei com rapidez a pressa do barril”,diz, “logo me arrepiei ao juntar os fatos e perceber que: sim! Era um barril descendo o morro”.
   Entrevistamos também um grupo de idosos, que caminhava por perto. Dona Lourdes, 73, diz que é um absurdo que as autoridades permitam que “tais fatos ocorram”: “Minha nossa, eu e meu marido não podemos confiar mais em nossa reação quando se vê um barril descendo assim. Sabe-se lá como nosso organismo reagirá não é mesmo? Não sei como nossas autoridades não providenciaram uma maior fiscalização.” Seu marido, Inácio Ventura, 82, diz que se fosse mais jovem adoraria acompanhar a descida de um barril, “mas nessa idade é emoção demais”.
   Nossa equipe também confirmou  com um especialista, doutor em física cinética pela UFRJ, Márcio Cinésia, as possibilidades de tal acontecimento. Segundo Cinésia, as chances são remotas, mas as vezes acontecem. O físico também se entusiasmou com o relato do jovem, e diz que seria uma oportunidade única ver de perto um barril cair, “sabe-se lá onde, e por que cargas d’água”, como diz o divertido cientista, que na verdade sabe muito bem o porque, mesmo tentando amenizar com seus eufemismos a tragédia inegável: “sim , quando o atrito se sobrepor a sua energia cinética, o barril irá parar, não tem jeito.”

   De fato, foi isso que logo supôs Orlando, que ao ver o objeto rolando entendeu o caráter da situação. Pulos sobre pequenas vidas, folhas que estalam pela eventualidade dos fatos, galhos verdes retorcidos, galhos secos partidos, terra molhada estigmatizada, terra seca, cortina de poeira. Pano de fundo de árvores tentando disfarçar o insólito conteúdo, que rola levando a passividade de Orlando, seu solilóquio. Rola levando de Orlando seus rotineiros pensamentos, o barril não pôde prever tamanha mudança. Saiu carregando tudo ao seu redor, de pequenas partículas, até um antigo espírito, trazendo a Orlando o seu novo ser.



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