quinta-feira, 8 de setembro de 2011

le temps

O rosto que vejo não é mais o mesmo que conheci. Estranhos, é o que somos. As fotos mostram alguém que já não existe, um sorriso que não tem o mesmo efeito, uma imagem que não tem sentido. O tempo passa e tudo muda. O passado é esquecido. Nem me lembro quem era ontem, não me lembro quem fui enquanto vivia o que vivi. Apagar talvez seja a função do tempo. São tantas lembranças que não cabem na mente que teima em armazenar o mundo. Apago o ontem, até a manhã de hoje já não faz mais sentido. Vivo e revivo sem lembrar que vivi, como Niezsche disse: "A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.", não só me divirto, mas também choro as mesmas lágrimas como se fossem únicas, vivo os mesmos dilemas como se fosse a primeira vez que questionasse. É mais intenso, mais forte, diria até que é mais vivo viver esquecendo a ter memória ativa. Às vezes me bate nostalgia de tempos que nem sei como eram. Quando vejo aquela foto, os rostos estampados mostrando a felicidade congelada penso que realmente foram tempos felizes, mas não me lembro o que pensava enquanto sorria. 
Hoje quando olhei para o passado não vi nada, apenas um rosto, nenhuma expressão familiar. Senti uma pontada de inveja por “alguém” ter vivido o que eu queria viver. Se este alguém ao menos se lembrasse dos detalhes poderia me contar e eu teria imaginado cada cena da história que se passou, mas talvez alguém também não se lembre.
Ando me tornando cada vez mais esquecida, não se assuste se em algum momento não me lembrar mais de você, afinal esqueci até quem sou. Mas nem vale à pena lembrar, amanhã descubro de novo!

Rebele Fleur

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