quarta-feira, 20 de julho de 2011

Estratégias em um Novo Paradigma Globalizado

      Início de aula, o professor pressiona o botão para ligar o computador, este comprado em diversas parcelas mesmo sendo dos piores modelos do mercado. Desajeitado, o senhor de 33 anos mal sabe manusear o mouse. De resto, lembra das três aulas de informatica que teve no curso preparatório para o cargo e consegue selecionar seu vídeo. Alcança seu objetivo.

      Atento, reparo na deixa da seta do mouse logo no centro do monitor. Dou breves socos na mesa, sem nem o roedor que passa ao fundo da sala perceber. Começa a exibição, mais uma aula sobre arte contemporânea, ou talvez seja de meio-ambiente, não tenho certeza. O pequenino objeto branco continua pairando sobre meus olhos, não consigo sequer desviar o olhar.
   
     Seu formato pontiagudo parece me rasgar por dentro, sem qualquer chance de defesa do meu corpo. Tenho vontade de quebrar todo o equipamento que projeta a imagem. Vontade de atear fogo no local com todos os presentes ainda sentados. Eu incluso. Tenho vontade de quebrar cada pedaço do casco de cada tartaruga marinha que respira, apenas para aliviar a dor que este pedaço de vida virtual me causa.

     A seta continua a me encarar, como se duvidasse de minhas intenções. Abaixo a cabeça, tentando engana-la a pensar que me dei por vencido. Ledo engano, já me levanto atirando minha carteira na tela, que se espatilhafa pelo chão, em vários pedaços. Mesmo assim, a imagem continua presente, pior, agora são várias. Me levanto da carteira, mais um cochilo durante a aula, mais um sonho bizarro.

     Toca o sinal, hora de ir embora desse pesadelo virtual. Passo em frente ao monitor, como se despedisse do objeto que me atormentou por horas. Sinto falta daquele angústia prazerosa. Na saída, vejo uma família dormindo em plena calçada, com apenas um cobertor. Não passam de turistas. A vida é boa. Mais do que nunca, um porco em uma gaiola com antibióticos.



                                                                                               Homem das Cavernas

Nenhum comentário:

Postar um comentário