quarta-feira, 13 de julho de 2011

A bravura de ser artigo fresco

    A infância é sábia e, por conseqüente, esta é a nossa etapa mais autêntica e transparente. É nesse período que somos ingratos e mal-educados sem ressentimentos. A frustrante imagem de pegar os pais no flagra colocando os presentes de natal debaixo da árvore é preceito para ansiar por embrulhos ainda maiores. Pequenas mentes ligadas em tudo o que acontece à sua volta. No playground da vizinhança a garotinha loira e pálida chorava, ou melhor, grunhia, mas ainda assim era prazeroso vê-la perder todo o saco de pipoca por tropeçar na calçada. O tombo da velha gorda ao sair do taxi poderia ter sido gravado e re-assistido dezenas de vezes que surtiria o mesmo efeito de leveza gerada pela gargalhada gostosa de uma criança. Caçoar a menina feia da pré-escola e ainda ser venerado pelos colegas não poderia ser tão encorajador e excitante. Conseguir um lugar de destaque na turma é sonho de qualquer criança. E, elas usam todos os trejeitos herdados que, vão do exibicionismo às práticas mais sensatas e espontâneas, como ensinar aos demais como amarrar o cadarço, por exemplo. É na escola que aprendemos como viver bem socialmente. Uma pequena civilização estudantil que marca qualquer pessoa para a vida toda. A primeira apaixonite. A primeira discussão. A primeira prática de preconceito. É na transição dessa etapa para a adolescência que perdemos a essência de autonomia guiada a prazeres infantis. As crianças são tão sóbrias quanto o apetite sexual adolescente; tão vulneráveis quanto à ânsia pelo pecado adulto; tão inocentes como o silêncio da velhice.

Homem das Cavernas

Nenhum comentário:

Postar um comentário